segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ah(mar)




Olhar para o mar e não poder sentir sua textura me abraçando
Não sentir suas cores difundindo-se com as minhas
As luzes do sol que batem nele ao ritmo das ondas e se refletem em mim
E eu, que tenho em mim, o mar como essência
Hoje, o olho apenas de longe
Me recarrego apenas através da sua beleza, da energia que emana, do ar que ele faz chegar em mim
Do pouco aroma de maresia que consigo sentir através de uma máscara de proteção
Queria senti-lo inteiro em mim, e me entregar a ele por inteira
Ser coberta por cada uma das partículas que o fazem mar
E que me fazem amar
Uma lágrima escorre aqui, e a sinto com prazer, como um presente do oceano: A libertação do mar que há em mim
E nessa gota de infinidades posso sentir, ainda que por fração de segundos, sua textura, seu sabor, sua temperatura.









quarta-feira, 1 de abril de 2020

Reflexões sobre o Isolamento


Talvez tudo esteja acontecendo para nos mostrar que o ato de heroísmo nem sempre consiste em sair de casa, portando diferentes tipos de armas, prontos para atacar tudo àquilo que julgamos como 'inimigos'.

Isolar-se nesse momento, diz respeito a salvar o mundo, a salvar os outros – independente se esse outro me agrada, concorda comigo, ou não - . Ou ainda isso queira nos mostrar que sozinhos, não somos nada. Sem um planeta saudável em que possamos viver, não somos nada. Que sem o respeito pelo outro, pela diversidade, pela natureza, e por tudo que vai além do nosso próprio umbigo, não somos nada.

Isolar-se nesse momento também diz respeito aos nossos próprios monstros. Aqueles internos que nos dão insônia, que nos causam ansiedade, e tantos outros tipos de transtornos. O ser humano, em geral, sempre teve medo de ficar sozinho (apesar da controvérsia de ter imensa dificuldade em aceitar o outro), medo da sua própria companhia, medo do mergulho em si mesmo.

É. Mas esse momento está decretando isso: Se conheça! Conheça seus limites. Conheça suas capacidades. Conheça suas fragilidades. Converse com tudo o que você é. Sem a presença e a intervenção de ninguém. Olhe pra você, e olhe de verdade. Aprenda a viver com a sua própria companhia.

O mundo precisa disso, os outros precisam disso, você precisa disso.

O combate agora é contra nós mesmos. Contra nossas inseguranças, nossos medos, nossos pensamentos que nos traem. Não estamos sozinhos. Estamos em uma sala com todas as versões do que somos. Cada uma delas está te chamando para um diálogo, uma resolução. Te convidando a fazer as pazes consigo. Entrar em sintonia de paz. Primeiro com você, para que depois você consiga passar isso ao seu próximo, e emanar paz ao planeta.

Isolar-se para um encontro. O encontro com você. Talvez o encontro mais difícil que você já teve na vida. Talvez o que mais esteja te causando frio na barriga, e aquela vontade de desmarcar. Mas esse encontro foi marcado pelo universo, e não aceita que você desmarque. Já está aí. Já começou. Pega uma bebida, olhe para tudo o que está acontecendo. Olhe para você. Converse, entre em conflito, compreenda, perdoe, chore. Se abrace, faça as pazes. Descubra o que você é. Descubra o que você não é. E sobretudo, descubra tudo o que você pode vir a ser de melhor.

Estamos longe de sermos seres simples. Não tem jeito. Então que possamos, nesse tempo de isolamento, aprender a conviver com toda a complexidade que nos compõe.

E se precisar, grita!
O meu grito é a escrita!
Faça isso pelo planeta. Faça isso pelo outro. E faça isso por você!

segunda-feira, 9 de março de 2020

Entre passos e descompassos

Encantar-se novamente por algo desconhecido
- aconteça quantas vezes for - 
será sempre um passo no escuro. 
À sua frente você poderá encontrar uma mão aveludada pronta para segurar a tua, 
um abraço pronto para te acolher, 
como poderá também encontrar diversas muralhas cheias de espinhos!
O que fazer?
Parar de caminhar?
Seguir em frente é praticamente vital. 

Os batimentos, quando parados, sinalizam a inexistência de vida. 
Precisamos do caminhar, precisamos do novo.
Precisamos do 'a seguir'. 
Por mais frio na barriga que isso possa causar.
Daí a gente vai mergulhando, vai se entrelaçando, vai se embaraçando.

Umas vezes construindo nós, em outras vezes, laços.
Abraços, embaraços... 
E tantos passos e descompassos, que chega a hora em que o coração pede uma pausa.
Pede fôlego, pede para respirar, refletir.
Mas não para estagnar. 
Apenas para tomar impulso, e continuar tudo outra vez!
Quantas vezes forem necessárias!
E uma hora a gente acerta os passos desse caminho...
E a gente chega lá. 

Ah, chega!