quarta-feira, 1 de abril de 2020

Reflexões sobre o Isolamento


Talvez tudo esteja acontecendo para nos mostrar que o ato de heroísmo nem sempre consiste em sair de casa, portando diferentes tipos de armas, prontos para atacar tudo àquilo que julgamos como 'inimigos'.

Isolar-se nesse momento, diz respeito a salvar o mundo, a salvar os outros – independente se esse outro me agrada, concorda comigo, ou não - . Ou ainda isso queira nos mostrar que sozinhos, não somos nada. Sem um planeta saudável em que possamos viver, não somos nada. Que sem o respeito pelo outro, pela diversidade, pela natureza, e por tudo que vai além do nosso próprio umbigo, não somos nada.

Isolar-se nesse momento também diz respeito aos nossos próprios monstros. Aqueles internos que nos dão insônia, que nos causam ansiedade, e tantos outros tipos de transtornos. O ser humano, em geral, sempre teve medo de ficar sozinho (apesar da controvérsia de ter imensa dificuldade em aceitar o outro), medo da sua própria companhia, medo do mergulho em si mesmo.

É. Mas esse momento está decretando isso: Se conheça! Conheça seus limites. Conheça suas capacidades. Conheça suas fragilidades. Converse com tudo o que você é. Sem a presença e a intervenção de ninguém. Olhe pra você, e olhe de verdade. Aprenda a viver com a sua própria companhia.

O mundo precisa disso, os outros precisam disso, você precisa disso.

O combate agora é contra nós mesmos. Contra nossas inseguranças, nossos medos, nossos pensamentos que nos traem. Não estamos sozinhos. Estamos em uma sala com todas as versões do que somos. Cada uma delas está te chamando para um diálogo, uma resolução. Te convidando a fazer as pazes consigo. Entrar em sintonia de paz. Primeiro com você, para que depois você consiga passar isso ao seu próximo, e emanar paz ao planeta.

Isolar-se para um encontro. O encontro com você. Talvez o encontro mais difícil que você já teve na vida. Talvez o que mais esteja te causando frio na barriga, e aquela vontade de desmarcar. Mas esse encontro foi marcado pelo universo, e não aceita que você desmarque. Já está aí. Já começou. Pega uma bebida, olhe para tudo o que está acontecendo. Olhe para você. Converse, entre em conflito, compreenda, perdoe, chore. Se abrace, faça as pazes. Descubra o que você é. Descubra o que você não é. E sobretudo, descubra tudo o que você pode vir a ser de melhor.

Estamos longe de sermos seres simples. Não tem jeito. Então que possamos, nesse tempo de isolamento, aprender a conviver com toda a complexidade que nos compõe.

E se precisar, grita!
O meu grito é a escrita!
Faça isso pelo planeta. Faça isso pelo outro. E faça isso por você!

segunda-feira, 9 de março de 2020

Entre passos e descompassos

Encantar-se novamente por algo desconhecido
- aconteça quantas vezes for - 
será sempre um passo no escuro. 
À sua frente você poderá encontrar uma mão aveludada pronta para segurar a tua, 
um abraço pronto para te acolher, 
como poderá também encontrar diversas muralhas cheias de espinhos!
O que fazer?
Parar de caminhar?
Seguir em frente é praticamente vital. 

Os batimentos, quando parados, sinalizam a inexistência de vida. 
Precisamos do caminhar, precisamos do novo.
Precisamos do 'a seguir'. 
Por mais frio na barriga que isso possa causar.
Daí a gente vai mergulhando, vai se entrelaçando, vai se embaraçando.

Umas vezes construindo nós, em outras vezes, laços.
Abraços, embaraços... 
E tantos passos e descompassos, que chega a hora em que o coração pede uma pausa.
Pede fôlego, pede para respirar, refletir.
Mas não para estagnar. 
Apenas para tomar impulso, e continuar tudo outra vez!
Quantas vezes forem necessárias!
E uma hora a gente acerta os passos desse caminho...
E a gente chega lá. 

Ah, chega! 

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A dor e o prazer de alguns perigos

Quando alguém te estremece,
Te revira, te coloca de ponta-cabeça,
E tudo vira do avesso.
Quando um olhar te despe
Quando um sorriso te abraça
Quando a aproximação, lenta e sensual,
da pessoa em sua direção...
joga todo o resto no chão!
Esvazia qualquer ambiente.
E tudo o que passa a existir são vocês duas
Quando aquela mão encaixa perfeitamente na sua
Quando aquele cheiro te faz flutuar
Quando passam horas e horas, e você continuaria ali por mais um século
Quando você se sente a vontade, leve...
Quando você se sente você!
Quando o sorriso é frouxo, e o olhar é doce
Quando o perto, bem perto, já não é mais suficiente
Quando você quer que 2 se torne apenas 1
Difundir-se com aquele alguém e se entregar
Quando você se imagina caminhando em mil lugares diferentes, e em todos eles aquela pessoa está ali, de mãos dadas com você - aquela mão que se encaixa perfeitamente -
Quando você olha praquele sorriso e tem vontade de vê-lo todos os dias. Morar dentro dele.
Quando dois corpos se encontram e duas almas se reconhecem
Cuidado! Todas essas coisas têm um alto grau de periculosidade...
E alguns perigos são deliciosos de se correr!

domingo, 1 de setembro de 2019

Balança do Tempo

Troco a foto.
Mudo o foco.
Inquietação surge.
Logo ali, junto às lembranças.
O que procuro?
Qual a busca, afinal?
Será que dá para buscarmos quem éramos?
Saudade será que serve pra quê?
Será que tem que servir?
Onde eu moro agora?
Na esquina do que fui, paralelo ao que vou ser?
Sinto falta, sinto o vento, sinto o tempo.
O tempo que foi, não é.
Mas pode ser.
Os sorrisos que sorri, as aventuras que vivi, as pessoas com quem compartilhei.
Momentos, caminhos, conversas, trocas.
Saudade é bom.
Saudade de nós mesmos, é bom.
Faz a gente olhar pra dentro, olhar pra trás, olhar pra frente, olhar o agora.
Olhar!
Olhar e saber perceber.
Que se sinto saudade é porque o que vivi foi maravilhoso.
Enxergar e entender.
Que a vida flui, acontece e desperta.
Pra quem segue o passo, 
Olha pra trás, 

Mas permanece e vive o agora.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Vida além da caixa

Na inquietude entre passado e futuro, meu presente se concretiza em ansiedade.
Atitudes insanas, intensas, movidas por uma incontrolável fome de vida que ainda não se adéqua... Talvez nunca se adéque.
Fórmulas, caixas, definições. Todos são incentivadores da ansiedade. Vestem roupas diferentes, mas no final te cobram o mesmo: rotule-se!
A vida é mais, a vida não cabe. E não foi feita pra caber.
A vida é sentimento, tesão, sabor, cor, amor... menos enquadro.
Caixa louca essa que tentam nos colocar. Aperta, sufoca, esmaga, manipula. E se não entramos: Loucos!
É amplitude demais, é intensidade demais para ser reduzida em prestações de contas do passado e cobranças pelo futuro.
É complexa, é imensa, é PRESENTE. É tudo que cada pessoa é, e nunca será capaz de ser tecido por um lápis e papel, ou por alguma palavra já inventada, dentro do dicionário, ali, na categoria das... Subjetividades?
E subjetividade lá foi feita para ser reduzida em palavras, meia dúzia de ações ou alguma cobrança imposta?
A vida é tanto, a vida é demais... A vida é foda!
E o viver de cada um é Ser Humano.
Não tentem nos reduzir, nos liquidificar, nos submeter ou nos aprimorar.
Tentem nos sentir.
E tentem se entregar.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

O mar que não mergulhei


Bastaram poucas horas, e eu estava encantada.
Os mesmos requisitos de sempre: voz, conversa, os assuntos, o mistério,
E sempre algum ingrediente que não sabemos nomear, definir...
Sua voz, sua doçura, seu sotaque, sua forma de falar – que sempre me fazia sorrir  –, logo me embalaram. E sem perceber eu estava num balanço, daqueles que só se sentem em um delicioso passeio de barco ao mar.
Era isso!
Você era o mar,
e eu que há tanto não o via, me deixei levar pela brisa e pelo cheiro inebriante da maresia.
Passavam-se horas no dia, e em todas elas, nós estávamos ali conversando.
20, 30 min sem falar? Já era saudade...
E essa imensa sedução de mar, em alguém apaixonada por oceano (e há tanto tempo sem mergulhar), me convidou.
Mais que isso, me intimou.
Porque naquele momento eu já não tinha mais escolha.
Meu corpo suplicava pelo mergulho, minha pele estava seca e sedenta.
Os assuntos aumentando, as conversas esquentando, e o desejo explodindo.
Pronto! Fui ao seu encontro! Foi como chegar na beira da praia!
Eu, como criança inquieta, só queria mergulhar . Mas não podia.
Tive que ficar no calçadão observando...Tudo aquilo que eu queria sentir, e não me era permitido. Não era a hora...
Seu olhar, as areias úmidas que meus pés queriam sentir.
Sua voz, o som das ondas batendo, que me davam imensa vontade de me entregar.
Mas eu não podia. Apenas via, e ouvia tudo de longe...
Meu ritmo atencioso e inquieto de te observar – palavras ditas, não ditas. Olhares encontrados e desencontrados – pareciam te deixar desconfortável.
E eu, não aguentava mais!
Minha vontade e pressa de sentir, por inteiro, aquela praia, me desconcertaram.
Deixei de dominar minha vontade. Só a ansiedade falava por mim.
                - E na maioria das vezes, ela não é boa porta voz.
Tentei chegar meu pé perto da areia, e consegui senti-la por alguns segundos... Só aumentou minha vontade de mergulhar!
Não aguentei e gritei! Meu peito explodiu:
                - Quero conhecer tua praia! Mergulhar nas águas do teu mar! Preciso fazer isso agora! Não consigo mais esperar...
Meus olhos flamejavam, minha voz tinha mudado de tom, meu corpo exigia!
Te assustei!
Pude ouvir o som das ondas ficando revoltas, mas eu não sabia mais recuar.
Meu pedido virou súplica, e o seu "não" transformou minha necessidade em frustração.
Não ouvia mais nada com clareza. Sabia que não ia sentir o mar, a areia, nada...
Continuei caminhando ali no calçadão, mas já sem esperança de me deleitar naquela praia.
Foi então que precisei partir, começar a caminhar para longe dali, tirar a praia da minha vista, seguir.
Como último ato de sentir a praia, coloquei minhas mãos na areia. Muito pouco dela ficou em mim, mas aquela sensação eu ainda pude sentir por algumas horas.
A forma que cheguei em casa não podia ter sido outra: seca, sem areia, sem o som das ondas, sem nem mesmo aquela sensação que a maresia deixa na pele...
Meu encontro com você ficou lembrado como o dia que cheguei na praia com tanta vontade de senti-la, e voltei sem alcançá-la.
Olhar o mar só de longe é muito difícil quando se quer nadar.
E no teu oceano, eu sei, eu perdi a chance de mergulhar.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Incompreensível amor

Teu amor bruto,
Que exige minha presença,
Em meio a palavras bruscas que me machucam.
Perfuram meu ser. Este que tanto te preza.
Meus sentimentos fundem-se em dor e admiração pelo que és. 
A doçura da música, da criatividade, 
Da forma de ouvir o mundo, e de se fazer ser ouvido. 
Quando silencia, preocupa. 
Porque és música, e precisa preencher todos os espaços e tempos com a sua melodia. 
Porém, sua composição também sabe machucar, 
como a letra dolorida da música preferida que se ouve quando o coração está ferido.
Uma estrada de companheirismo, cuidado... Brutalidade. 
Dor. Ferida que germina. 
Talvez um dia consiga encontrar para si o equilíbrio de toda essa força que é, 
E perceber toda a beleza que pode ser.
Difícil compreensão.
Te enxergo. Te amo.